Como nos mobilizamos? A contribuição de uma abordagem pragmatista para a sociologia da ação coletiva.

Essa é uma resenha de Érika Lizandra do texto do Daniel Cefai, o texto original pode ser encontrado na DILEMA: Revista de Estudos de Conflitos e Controle Social.


Daniel Cefaï é um sociólogo francês com doutorado em antropologia pela École de Hautes Études en Sciences Sociales, atuando principalmente na antropologia, fenomenologia, sujeito, espaço público, verdade e política. No artigo Como nos mobilizamos? A contribuição de uma abordagem pragmatista para a sociologia da ação coletiva o pesquisador aborda a questão da ação coletiva a partir de estudos pragmatistas realizados na França desde 1980. 

O pragmatismo é uma corrente filosófica baseada na “subordinação do valor teórico ao critério de eficácia, tendo em vista a sua aplicação prática” (PIRES, 2014). No artigo o intuito do autor é analisar, utilizando exemplos pragmatistas, como se dá a mobilização de atores sociais e a ação coletiva. Cefaï inicia seu texto com uma crítica pela forma como costumam lidar com os movimentos sociais. O autor acredita que estes são constantemente postos na mesma bolha, como se fossem um só, com os mesmos objetivos, mesmas formas de agir, mesmas crenças etc, assim, ele enfatiza a importância de começar a enxergar os coletivos como movimentos que se divergem e que obtêm particularidades próprias.

Os movimentos sociais são caracterizados pelo capital humano, pelo ativismo, pela militância, pela sociabilidade e são mobilizados em torno de um problema público. Na visão pragmatista, a “mobilização coletiva é um processo de codefinição e de codomínio de situações problemáticas” (Cefaï, 2009, p. 16). Cefaï define a arena pública como sendo esse espaço de ação coletiva, onde os atores podem se mobilizar, se articular e se sensibilizar para constituir tais problemas, em nome do interesse geral.

O autor classifica ainda os movimentos coletivos como fluidos e difusos. A partir de uma transformação nas estruturas de mobilização, a qual rompeu com a centralização e hierarquização existente nas organizações, gerando espaço para mais participação e deliberação nas decisões. E é a partir da cultura pública que as mobilizações coletivas se materializam. “Ela se realiza em um trabalho de cooperação e de competição em que, correlativamente à defesa de seus interesses e à reivindicação de seus direitos, atores deliberam racionalmente e razoavelmente, configuram explicações e interpretações, mas também exprimem e simbolizam emoções, projetam imaginários e utopia” (idem, p. 28). Pode-se interpretar a cultura pública como um senso comum, no sentido de que as organizações se organizam e partilham dos mesmo problemas, visões e perspectivas e a partir disso se juntam para discutir e tentar resolver tais percalços através das ações coletivas.

Para Cefaï, as ações coletivas podem ser motivadas a partir de duas temáticas. A primeira delas é a afetividade, a qual tem como base a emoção. Segundo o autor, toda mobilização coletiva é movida pela “indignação e revolta, solidariedade ou debandada, alegria ou decepção” (idem, p. 31). Em outras palavras, a afetividade serve como combustão para unir os atores e fazê-los se mobilizar por uma causa comum.

A segunda é a temporalidade. Essa consiste na emergência das ações coletivas, o que o autor chama também de heterogeneidade dos regimes de ação, caracterizando-se pela realização de ações estratégicas que vão se desenvolvendo cotidianamente a partir de acontecimentos que surgem sem aviso prévio. 

Para ler o texto na íntegra basta acessar o link (https://revistas.ufrj.br/index.php/dilemas/article/view/7163/5742), vale a pena conferir.